sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei


Na corrida do Oscar de 2010, Jeff Bridges e Colin Firth disputavam a estatueta de Melhor Ator, respectivamente por Coração Louco e Direito de Amar. Jeff Bridges acabou levando a melhor, e sagrou-se o grande vencedor masculino da noite. Curiosamente, nesse ano os dois atores voltam a se enfrentar, novamente com incríveis interpretações. A diferença é que provavelmente o ator do faroeste Bravura Indômita não deve levar o prêmio. Se a Academia estiver de acordo com a vasta maioria das premiações do cinema, Colin Firth ganhará pela primeira vez um Oscar, pela sua magnífica interpretação do Rei George VI, pai da atual Rainha Elizabeth II, em O Discurso do Rei.
O filme recria os acontecimentos da monarquia britânica na véspera da Segunda Guerra Mundial. O Rei George V (interpretado com excelência por Michael Gambom, o Dumbledore da série Harry Potter, em uma curta participação) está em seu leito de morte e seu filho David (Guy Pearce) irá sucedê-lo, como Rei Edward VIII. Mas seu reinado dura pouco, pois renuncia para se casar com uma americana duplamente divorciada, algo condenável na realeza. Seu irmão mais novo, Albert Frederick Arthur George foi então forçado a assumir o trono e se tornar o Rei George VI. O tema central da história porém é muito mais pessoal e humano do que político.

O Discurso do Rei mostra a fundo o tratamento do Rei George VI para superar a maior dificuldade da sua vida: a gagueira. E para ajudá-lo nessa jornada entra em cena Lione Logue, especialista australiano que possui métodos pouco convencionais para tratar seus pacientes. E a partir daí surge uma improvável amizade e interdependência entre os dois. O Rei precisa de Lionel para ajudá-lo em seus discursos e também como um ombro amigo. E Lionel tem em Bertie, como insiste em chamar o Rei, um paciente desafiador e é claro, um grande companheiro.

O Discurso do Rei seria apenas mais um filme histórico de superação, se não fosse pela incrível equipe que participou de sua criação. A começar pelo elenco. O trio principal é simplesmente arrebatador. Geoffrey Rush, famoso pelo papel do Capitão Hector Barbossa da série Piratas do Caribe, interpreta Lionel Logue com extrema eficiência, recebendo pelo papel sua quarta indicação ao Oscar, tendo ganho a primeira pelo espetacular Shine. E em todas as cenas em que contracenam, Geoffrey e Colin Firth realizam uma batalha de interpretações. Colin está simplesmente sublime, e aos poucos vem ganhando espaço dentre os grandes atores da atualidade. Sua indicação ao Oscar por dois anos seguidos comprova isso. Colin demonstra aqui também grande versatilidade, encadeando papéis totalmente divergentes. A forma como altera sua fala para construir o Rei George VI é fascinante, e a maneira como muda de postura quando na presença confortante da família e numa situação de pressão é notável. E Helena Bonham Carter certamente não pode deixar de ser mencionada. Após uma série de papéis caricatos, como na série Harry Potter e em filmes de seu marido Tim Burton, Helena finalmente se prova como atriz em um papel real e pé no chão. Nada de gritos estridentes, cabelos desgrenhados e histeria. Helena consegue canalizar emoção e sinceridade no papel da esposa fiel do Rei, Elisabeth, ganhando assim sua segunda e merecida indicação ao Oscar.

O trabalho de direção de arte é também louvável. A caracterização dos personagens é impecável, os cenários perfeitamente montados. O consultório de Lionel é expetacular, milimetricamente e lindamente decorado. A fotografia é de saltar os olhos, com cenas em meio à névoa filmadas com maestria. A trilha sonora de Alexander Desplat, como de costume, é um deleite.

Mas provavelmente o principal responsável pela qualidade de O Discurso do Rei é o diretor Tom Hooper. Tom filma de uma maneira original e criativa, em praticamente todas as cenas, enquadra Colin no canto inferior esquerdo da tela, centralizando o personagem na tela apenas no clímax do filme. É como se quisesse mostrar como o Rei sempre se sentiu, no canto, oprimido. Além disso conduz o filme num ótimo ritmo, nem tão rápido e nem tão lento. E provou ser um ótimo diretor de atores.

O filme é o campeão de indicações ao Oscar do ano, com 12 ao todo: Melhor mixagem de som, Melhor direção de arte, Melhor figurino, Melhor fotografia, Melhor edição, Melhor trilha sonora, Melhor roteiro original, Melhor atriz coadjuvante (Helena Bonham Carter), Melhor ator coadjuvante (Geoffrey Rush), Melhor ator (Colin Firth), Melhor direção (Tom Hooper) e Melhor filme.

O Discurso do Rei é um perfeito modelo de filme de superação. Superação em todos os aspectos e digna da realeza.


5 Sushis!!!!!

Um comentário:

  1. Sensacional esse filme. Merece demais todos os Oscars que está concorrendo. Mas é claro que pra festa ficar mais animada é bom que eles também sejam repartidos entre os outros, que também são muito bons!!!

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