segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Deixe ela entrar e Deixe-me entrar

Há um pouco mais de um ano ouvi falar de um filme de terror sueco que estava fazendo sucesso em vários festivais. Filmes suecos sempre me remetem à Bergman, e portanto, filmes de ótima qualidade. Fiquei curioso e fui pesquisar. O filme em questão era Deixe ela entrar (Låt den rätte komma in), de 2008. Adquiri o filme na época, mas depois, com tantos outros para assistir, acabei deixando esse sempre para depois.
Uma refilmagem americana foi anunciada, estrelando Chloë Moretz, a incrível menina de 13 anos que impressionou a todos como a Hit Girl de Kick-Ass. Isso me empolgou, mas ainda assim, não tomei a iniciativa de assistir ao filme.
Agora, com o lançamento da refilmagem, finalmente fui assistir o original, e na mesma semana vi a nova versão. E os dois filmes são realmente belíssimos.
O filme conta a história de um garoto de 12 anos, Oskar (Owen na versão americana), o estereótipo de garoto sem amigos e vítima de bulling na escola. Um dia, muda para o apartamento vizinho ao seu uma garota aparentemente da sua idade com seu pai. O que Oskar não sabe é Eli (Abby na nova versão) é uma vampira, e começará uma perigosa e bela amizade com ela.
A trama pode não parecer tão atrativa e até mesmo pode soar semelhante à série 'Crepúsculo', mas isso é apenas a aparência. O filme na realidade é uma densa e bela fábula sobre a amizade e a solidão, que acompanha os dois personagens de formas distintas. Eli /Abby não pode fazer amigos por ser uma vampira com sede de sangue e Oskar / Owen vive fugindo dos valentões da escola, que o maltratam de forma até chocante de assistir. E é dessa solidão que surge a grande amizade dos dois. Uma amizade estranha, que começa fria e vai esquentando aos poucos, chegando a proporções inimagináveis.
O filme foi classificado como terror, mas na verdade, é um pesado drama, com pitadas de sangue. O fato de Eli/Abby ser vampira é apenas uma alegoria para retratar os problemas da adolescência.
Agora vamos falar sobre cada filme em particular.
Deixe ela entrar é um filme que se aproxima de uma obra prima. Lindamente filmado, predominam os tons de azul e cinza. As atuações são ótimas, em particular a de Lina Leandersson, que cria uma Eli contida e introspectiva, mas que transparece sofrimento. Existem cenas inspiradíssimas também, como a dos dois tocando as mãos através da porta de vidro. Simples e sem efeitos especiais, é um 'terror' cru e honesto, realmente um filme sueco digno. Não foge de alguns clichés do gênero, mas nada que atrapalhe a maestria da película de Tomas Alfredson.


Quase sempre refilmagens não dão muito certo. Poucas vezes são tão boas quanto o original, e raramente o superam. Deixe-me entrar, surpreendentemente, se iguala e em alguns momentos, ouso dizer, até supera o original. A começar pelo elenco. O trio Chloë Moretz, Kodi Smit-McPhee e Richard Jenkins é espetacular. Chloë cria uma Abby diferente da de Lina, mais misteriosa, mais assustadora e intimidante. Aliás, o filme inteiro é muito mais aterrorizante que o original. Juntou-se a essencia do filme sueco com a tecnologia americana e a experiência no gênero terror do diretor Matt Reeves, e o resultado pode sim ser chamado de terror. Não é um terror de sustos a cada cinco minutos, ou aqueles que te deixam sem dormir, mas definitivamente é terror. Mas o drama do original não é perdido. A história se sustenta bem da mesma forma, os takes são refilmados quase que um a um, de forma quase idêntica. Preste atenção na palavra 'quase'. Apesar de serem quase idênticas, as cenas diferem em seu acabamento. Os novos atores trazem uma nova interpretação da mesma história, e Matt explora as cores fortes e escuras, como o marrom e o vermelho ao invés dos tons claros do original. Isso origina uma tensão que é inexistente em Deixe ela entrar. Algumas sequências, apesar disso, são totalmente modificadas. Os assassinatos que ocorrem no decorrer da trama são feitos de forma diferente no novo filme, o que não tras prejuízo algum, pelo contrário, chega até a dar mais emoção. O roteirista também optou por criar um novo personagem, o policial, e acabar com a linearidade da trama, mas estes detalhes na verdade nada mudam. O que é realmente importante, a relação da vampira com o garoto, é mostrado tão profundamente quanto no original. A cena final torna-se ainda mais chocante e arrebatadora.



Numa era de filmes de vampiros bonzinhos inundando as salas de cinema, é sempre bom ter uma amostra do que realmente é um ótimo filme de vampiros. Esse sim honra a icônica Anne Rice! Fãs de crepúsculo, assistam e vejam como o seu tão amado Edward de vampiro não tem nada.



Deixe ela entrar: 4 Sushis!!!!



Deixe-me entrar: 4 Sushis!!!!

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